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O GÊNIO ESQUECIDO

LAURENS HAMMOND

Girando as engrenagens do tempo


Chamar Laurens Hammond  de uma criança prodígio é pouco. Aos 14 anos de idade ele já havia projetado um sistema de transmissão automática de carros. Com apenas 17 anos ele obteve com sucesso sua primeira patente de um barômetro que podia ser vendido por só um dólar. Com o passar dos anos Hammond criara uma nova linha de outros inventos, de relógios elétricos a equipamentos militares, os primeiros óculos 3D para o cinema – e, é claro, o Órgão Hammond.

Laurens começou sua carreira de inventor na adolescência, e suas habilidades foram logo aprimorando com os estudos em engenharia mecânica na Universidade de Cornell, graduado com honras em 1916. Então veio a Primeira Guerra Mundial, Hammond serviu no 16o. regimento e chegou ao posto de Capitão. Após a Guerra, trabalhou como engenheiro chefe na Empresa Gray Motor Company construindo motores náuticos – sempre pensando paralelamente. Seus projetos pessoais tinham mais frutos como o relógio sem molas e 'sem-tique', que lhe rendeu dinheiro suficiente para sair da empresa e alugar seu próprio espaço em New York City.
Enquanto estava na cidade de New York, Hammond inventou o primeiro óculos 3D da história – no entanto sua primeira versão tomou forma em um estranho equipamento motorizado com um disparador que expunha uma sena alternadamente para cada olho do espectador. Enquanto a receptividade deste equipamento era positiva, faltou suporte da industria cinematográfica e o invento não se consolidou.
Hammond persistiu e aprimorou o projeto aumentando tanto o lado prático e de custo-beneficio, utilizando uma armação de papelão com uma lente vermelha e outra verde – o velho óculos 3D que amamos. Os óculos foram usados na década de 1930, e foram revisitados diversas vezes até a década de 1980.

Sem dúvidas a invenção mais famosa de Hammond aconteceu pouco após da criação do óculos 3D. Com o passar dos anos ele percebeu que as engrenagens de seus relógios elétricos produziam sons diferentes e resolveu fazer um órgão de igreja mais econômico do que os de tubos. Sendo assim, em 1933, Hammond comprou um piano usado e o desmontou inteiro descartando quase tudo, exceto pelo mecanismo do teclado.

Rodas que produzem sons - Tonewheels 
Ele descobriu que podia obter tons através do mecanismo giratório com um captador com mesmo princípio que fazia em seus relógios. Fascinado pela descoberta, Hammond construiu nove contatos mecânicos para cada nota em baixo do teclado e adicionou controles que regulavam o volume de cada harmônico chamados de “drawbar”.
Enquanto o instrumento produzia tons parecidos com o Telharmonium de Thaddeus Cahill’s Telharmonium (via um gerador mecânico gigante), o órgão de Hammond fazia o mesmo em menor escala de tamanho e com o objetivo de atingir o mercado das igrejas e de lazer.

Laurens mostrando dentro do seu modelo A 
 O instrumento oferecia uma opção mais em conta do que um piano acústico e principalmente do que um órgão de tubos, conseguindo alcançar rapidamente o mercado de bares e igrejas.

O órgão Hammond's ficou famoso de 1954 - 1974, alcançando grande popularidade em parte pela produção do modelo B3. Os entusiastas de Hammond descobriram que ao combinar o B3 com uma caixa Leslie (falantes giratórios, variando sua velocidade, podiam criar uma variedade de efeitos, do  tremolo ao chorus, e outros sons estranhos entre eles. Em adição a isso, os organistas de Hammond usavam o motor de partida do instrumento para variar brevemente a afinação criando o pitch bend. Era uma combinação única do órgão Hammond B3 e a caixa Leslie que impulsionou a criação de Hammond até  as alturas no século 20.


O Órgão Hammond viveu grande sucesso em muitos gêneros musicais, começando no jazz antes de se ramificar do soul, gospel, R&B, rock, progressive rock e reggae. Jimmy Smith, um virtuoso organista de jazz foi um dos pioneiros a explorar totalmente os pedais e drawbars do órgão Hammond  criando uma referência organística como ninguém.

Jimmy Smith
Outros artistas e grupos famosos que usavam o Órgão Hammond em suas gravações foram entre muitos o Deep Purple, Nick Cave, Bad Seeds, Pink Floyd, Bruce Springsteen, e até Evanescence. Duas gravações mais recentes de som do Órgão Hammond de uma forma ou de outra foram o 'Fake Plastic Trees' do Radiohead’s e o clássico 'Glory Box' do Portishead.

Em segundo lugar em termos de inovação depois do órgão foi a criação do Hammond de 1939, o Novachord. Considerado por muito como o primeiro sintetizador polifônico do mundo, o Novachord era uma invenção revolucionária no final da decada de 1930, tanto que a tecnologia de ponta teve uma receptividade dividida.
Muitos músicos ficaram confusos com a extrema diferença do órgão tradicional, ainda assim o Novachord apareceu em trilha de filmes como O Vento Levou e A Ameaça Veio do Espaço. Enquanto a produção do Novachord parou em 1941, ficou como exemplo dos primórdios da tecnologia musical e como outra criação revolucionaria atribuída ao Hammond.
A grande ironia talvez seja o fato de que o próprio Laurens Hammond não era músico  – ele mal conseguia tocar. Ele simplesmente adorava música, tinha a visão, habilidades e meios para fazer um instrumento tão eterno.

Enquanto outras inventores como Alexander Graham Bell e Thomas Edison são comumente creditados como os mais famosos inventores de nossa era,  Laurens Hammond deveria definitivamente estar na lista. O grande inventor se foi em em Julho de 1973, mas seu legado continua nas melhores de músicas feitas com seu maravilhoso instrumento.

Tenha mais órgão HAMMOND na sua vida! Para isso aqui tem uma playlist no Spotify para você curtir.



Escrito por Eddy Lim na mixdownmag.com.au
traduzido e adaptado por Daniel Latorre

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