A ideia de sugerir este livro foi motivada pela história do folclore africano, Taka, Tika e Gangale que o escritor, historiador e presidente da República de Gana, John Dramani Mahama nos conta como exemplo moral básico que deveríamos lembrar todos os dias.
O Livro se trata da experiência do autor sobre o Golpe de Estado, as décadas perdidas de Gana e de quase todo território africano após a repartição imperialista resultante da Segunda Guerra Mundial, os efeitos das guerras civis, disputas internas pelo poder, crise econômica e êxodo de profissionais e intelectuais para o estrangeiro.
"Era a história de Taka, Tika e Gangale, três pássaros canoros que eram amigos. O nome deles refletia as notas musicais que cada um cantava. A combinação dos três, principalmente quando entoada repetidas vezes, tinha um ritmo encantador. Eles a transformaram numa canção e começaram a voar até a praça da aldeia todo dia, ao nascer do sol, depois que as mulheres arrumavam na feira os seus legumes, frutas, cereais e mercadorias.
Quando os fregueses chegavam e começavam a bater nas melancias e apertar as laranjas para ver se estavam maduras, os passarinhos já circulavam no ar, enchendo-o com sua música harmoniosa. "Ta-ka-tka-gan-gale-ta-ka-tika-gan-ga-le, ta-ka-tika-gan-gale", era como chilreavam. Mudavam o ritmo e inseriam pausas, transformando-a num espetáculo completo.
Os aldeões gostavam de ouvir aqueles passarinhos cantarem. Enchiam-nos de presentes, pedaços de pão e cereais, moedas ou notas que erguiam nas mãos, levantando o braço no ar para que os passarinhos pudessem passar voando e recolhê-los. A parceria dos três amigos era próspera. A diversão que ofereciam se tornou a principal atração da feira.
Então o sucesso começou a encher a cabeça deles de ganância. Cada um imaginava secretamente que seria capaz de ficar com todos os presentes. Cada um começou a se perguntar por que precisava dos outros dois pássaros. Por algum tempo eles guardaram essas ideias para si. Certo dia, a viagem até a feira lhes trouxe uma coleta de bens especialmente grande. A convite de Taka, voaram todos até seu ninho para festejar. Depois da refeição, quando todos estavam cheios e satisfeitos, Taka disse aos outros que queria conversar. Começou com uma teoria.
---- Sou o líder de toda essa coisa - disse. --- É o meu nome, Taka, que nos torna tão populares. É o poder daquela primeira nota que escutam que nos traz essa comida e os presentes que recebemos. --- Na mesma hora, os outros dois viram aonde Taka queria chegar.
---- É claro que isso não é verdade --- Tika se apressou a refutar. --- Meu nome, Tika, é que faz as pessoas nos darem coisas. É um pareamento incomun de notas, uma aguda, a outra grave. Isso faz dele o mais melodioso.
---- Ei, ei, ei --- interrompeu Gangale. --- O que estão dizendo não tem nada a ver. Vocês dois só cantam duas notas. Eu canto três, que soam como percussão. É disso que as pessoas gostam. É o meu nome e a minha contribuição que elas preferem.
A discussão se inflamou e cada pássaro começou a sentir a necessidade de proclamar seu talento e proteger seu quinhão dos presentes dos aldeões. Os três amigos que tinham trabalhado tão bem juntos se zangaram e decidiram dar fim à parceria e à amizade. Concordaram em ir cada um para o seu lado.
Na manhã seguinte, Taka chegou primeiro à aldeia. Voou alto, com confiança, enquanto esperava as mercadoras colocarem folhas de jornal amassado no fundo das cestas de hortaliças, depois empilhar as frutas e legumes lá dentro, inclinando-as de leve para aumentar a impressão de abundância. Assim que os fregueses começaram a chegar, Taka fez sua estreia.
---- Ta-ka-ta-ka-ta-ka --- cantou com intensidade --- , ta-ka-ta-ka-ta-ka. --- Era um som mobótono e picotado que os aldeões acharam irritante.
---- Que barulho é esse? --- perguntaram uns aos outros. Assim que viram que era o passarinho que voava de barraca em barraca criando confusão, juntaram pedras e começaram a jogá-las para enxotá-lo. Assustado, Taka bateu as asas o mais que pôde e voltou ao seu ninho. Na manhã seguinte, quando foi à feira tentar a sorte outra vez, a mesma coisa aconteceu. Durante vários dias, ficou no ninho, desanimado e faminto. Tinha se acostumado à seleção de alimentos saborosos que os aldeões davam a ele e aos outros dois pássaros, e agora tinha de procurar o que comer.
A tentativa de carreira solo de Tika foi recebida com mesmo desdém. Ele chegou pouco depois da partida de Taka. sem saber do destino do ex-amigo. Encontrou um lugar no alto de uma das barracas das feirantes. Era um ponto central, onde todos conseguiram vê-lo e ouví-lo. Ali, começou a cantar "Ti-ka-ti-ka-ti-ka-ti-ka-ti-ka-ti-ka".
Esse som era ainda mais desagradável. A nota agudíssima que tinha de dar ao cantar seu nome soava como um guincho para os aldeões. Alguns, incapazes de se concentrar na negociação que ocorria entre eles e as mercadorias, abandonaram as compras e foram embora.
---- Ah, esse passarinho vai acabar com minha freguesia! --- exclamou uma das mercadoras. Ela pegou a maior pedra que encontrou e a jogou diretamente em Tika, e errou por pouco. Chocado, ele saiu voando e não voltou. Como Taka, depois de alguns dias sozinho no ninho começou a sentir saudade daquela época mais feliz em que eram todos amados e bem alimentados.
Gangale esperou alguns dias antes de ir à feira. Ensaiou sua canção, voando de árvore em árvore numa floresta perto da aldeia, cantando seu nome, tentando encontrar o tom e o ritmo certo. Quando sentiu que estava pronto, foi à praça da aldeia. Estava movimentadíssima. Os fregueses já tinham chegado e circulavam. Ele limpou a garganta e começou.
---- Gan-ga-le, gan-ga-le, gan-ga-le --- cantou. Então fez uma pausa e continuou --- Gan-ga-le, gan-ga-le, gan-ga-le. --- Achou que alguns aldeões estavam gostando da canção. Eles arrastavam os pés e balançavam a cabeça no ritmo. Gangale continuou. --- Gan-ga-le, gan-ga-le, gan-ga-le. --- De pois de algumas repetições, ouviu um dos aldeões perguntar:
---- Mas esse passarinho só sabe cantar isso? Que coisa mais sem sentido!
---- Hun, vai ver está com uma minhoca engasgada. --- Isso fez todo mundo rir.
---- Vá embora --- insistiram. --- Volte quando souber das mais vida à sua canção, para que fique doce.
--- Ora, o que aconteceu com aqueles passarinhos que costumavam vir aqui? --- ouviu uma das feirantes perguntar quando saía voando. Em vez de voltar diretamente ao seu ninho, Gangale foi visitar Tika. Queria descobrir como os aldeões tinham recebido o velho amigo. Quando chegou ao ninho de Tika, Gangale pôde ver que o colega estava desolado. Tika, que conhecia Gangale havia anos, também soube na mesma hora que ele estava infeliz. Os dois sabiam o que tinham de fazer. Foram juntos para o ninho de Taka.
T.aka era um pássaro vaidoso e se recusou a permitir que os outros soubessem que fracassara redondamente, mas os antigos amigos conseguiram enxergar por trás do fingimento.
---- Acho que todos fomos tolos --- disse-lhe Gangale.
---- É --- acrescentou Tika. --- Nenhum de nós era líder nem tinha mais a contibuir.
---- O que eles amavam --- Continuou Gangale --- era a música que fazíamos juntos.
---- Você tem razão --- Taka teve de confessar, --- Sem os outros, o que fazemos não é música.
Eles concordaram em reatar a amizade e voltar à parceria. Na manhã seguinte, chegaram à feira do mercado bem cedinho. como sempre faziam quando cantavam juntos. E quando começaram a chilrear "Ta-ka-ti-ka-gan-ga-le, ta-ka-ti-ka-gan-ga-le, ta-ka-ti-ka-gan-ga-le", tiveram uma platéia alegre e calorosa.
---- Eeeeeiii, os nossos pássaros canouros voltaram --- alegram-se todos. Os aldeões deram aos pássaros mais comida e dinheiro do que os três já tinham recebido num único dia. Eles voltaram ao ninho de Gangale para comer o pão, as frutas e os cereais e para contar e dividir igualmente o dinheiro. Depois que cada passarinho recebeu o devido quinhão e ficou contente, Taka, Tika e Gangale prometeram nunca mais permitir que o orgulho atrapalhasse seu progresso."
Meu Primeiro Golpe de Estado | Autor: John Dramani Mahama | Tradução: Beatriz Medina | Edição: 1ª | Editora Geração | ISBN: 9788581301808
"Jazz to me is the spirit of freedom. I mean real freedom. Freedom to explore. Freedom to express. Freedom to pour out your guts" Herbie Hancock
O Livro se trata da experiência do autor sobre o Golpe de Estado, as décadas perdidas de Gana e de quase todo território africano após a repartição imperialista resultante da Segunda Guerra Mundial, os efeitos das guerras civis, disputas internas pelo poder, crise econômica e êxodo de profissionais e intelectuais para o estrangeiro.
Meu Primeiro Golpe de Estado |
Quando os fregueses chegavam e começavam a bater nas melancias e apertar as laranjas para ver se estavam maduras, os passarinhos já circulavam no ar, enchendo-o com sua música harmoniosa. "Ta-ka-tka-gan-gale-ta-ka-tika-gan-ga-le, ta-ka-tika-gan-gale", era como chilreavam. Mudavam o ritmo e inseriam pausas, transformando-a num espetáculo completo.
Os aldeões gostavam de ouvir aqueles passarinhos cantarem. Enchiam-nos de presentes, pedaços de pão e cereais, moedas ou notas que erguiam nas mãos, levantando o braço no ar para que os passarinhos pudessem passar voando e recolhê-los. A parceria dos três amigos era próspera. A diversão que ofereciam se tornou a principal atração da feira.
Então o sucesso começou a encher a cabeça deles de ganância. Cada um imaginava secretamente que seria capaz de ficar com todos os presentes. Cada um começou a se perguntar por que precisava dos outros dois pássaros. Por algum tempo eles guardaram essas ideias para si. Certo dia, a viagem até a feira lhes trouxe uma coleta de bens especialmente grande. A convite de Taka, voaram todos até seu ninho para festejar. Depois da refeição, quando todos estavam cheios e satisfeitos, Taka disse aos outros que queria conversar. Começou com uma teoria.
---- Sou o líder de toda essa coisa - disse. --- É o meu nome, Taka, que nos torna tão populares. É o poder daquela primeira nota que escutam que nos traz essa comida e os presentes que recebemos. --- Na mesma hora, os outros dois viram aonde Taka queria chegar.
---- É claro que isso não é verdade --- Tika se apressou a refutar. --- Meu nome, Tika, é que faz as pessoas nos darem coisas. É um pareamento incomun de notas, uma aguda, a outra grave. Isso faz dele o mais melodioso.
---- Ei, ei, ei --- interrompeu Gangale. --- O que estão dizendo não tem nada a ver. Vocês dois só cantam duas notas. Eu canto três, que soam como percussão. É disso que as pessoas gostam. É o meu nome e a minha contribuição que elas preferem.
A discussão se inflamou e cada pássaro começou a sentir a necessidade de proclamar seu talento e proteger seu quinhão dos presentes dos aldeões. Os três amigos que tinham trabalhado tão bem juntos se zangaram e decidiram dar fim à parceria e à amizade. Concordaram em ir cada um para o seu lado.
Na manhã seguinte, Taka chegou primeiro à aldeia. Voou alto, com confiança, enquanto esperava as mercadoras colocarem folhas de jornal amassado no fundo das cestas de hortaliças, depois empilhar as frutas e legumes lá dentro, inclinando-as de leve para aumentar a impressão de abundância. Assim que os fregueses começaram a chegar, Taka fez sua estreia.
---- Ta-ka-ta-ka-ta-ka --- cantou com intensidade --- , ta-ka-ta-ka-ta-ka. --- Era um som mobótono e picotado que os aldeões acharam irritante.
---- Que barulho é esse? --- perguntaram uns aos outros. Assim que viram que era o passarinho que voava de barraca em barraca criando confusão, juntaram pedras e começaram a jogá-las para enxotá-lo. Assustado, Taka bateu as asas o mais que pôde e voltou ao seu ninho. Na manhã seguinte, quando foi à feira tentar a sorte outra vez, a mesma coisa aconteceu. Durante vários dias, ficou no ninho, desanimado e faminto. Tinha se acostumado à seleção de alimentos saborosos que os aldeões davam a ele e aos outros dois pássaros, e agora tinha de procurar o que comer.
A tentativa de carreira solo de Tika foi recebida com mesmo desdém. Ele chegou pouco depois da partida de Taka. sem saber do destino do ex-amigo. Encontrou um lugar no alto de uma das barracas das feirantes. Era um ponto central, onde todos conseguiram vê-lo e ouví-lo. Ali, começou a cantar "Ti-ka-ti-ka-ti-ka-ti-ka-ti-ka-ti-ka".
Esse som era ainda mais desagradável. A nota agudíssima que tinha de dar ao cantar seu nome soava como um guincho para os aldeões. Alguns, incapazes de se concentrar na negociação que ocorria entre eles e as mercadorias, abandonaram as compras e foram embora.
---- Ah, esse passarinho vai acabar com minha freguesia! --- exclamou uma das mercadoras. Ela pegou a maior pedra que encontrou e a jogou diretamente em Tika, e errou por pouco. Chocado, ele saiu voando e não voltou. Como Taka, depois de alguns dias sozinho no ninho começou a sentir saudade daquela época mais feliz em que eram todos amados e bem alimentados.
Gangale esperou alguns dias antes de ir à feira. Ensaiou sua canção, voando de árvore em árvore numa floresta perto da aldeia, cantando seu nome, tentando encontrar o tom e o ritmo certo. Quando sentiu que estava pronto, foi à praça da aldeia. Estava movimentadíssima. Os fregueses já tinham chegado e circulavam. Ele limpou a garganta e começou.
---- Gan-ga-le, gan-ga-le, gan-ga-le --- cantou. Então fez uma pausa e continuou --- Gan-ga-le, gan-ga-le, gan-ga-le. --- Achou que alguns aldeões estavam gostando da canção. Eles arrastavam os pés e balançavam a cabeça no ritmo. Gangale continuou. --- Gan-ga-le, gan-ga-le, gan-ga-le. --- De pois de algumas repetições, ouviu um dos aldeões perguntar:
---- Mas esse passarinho só sabe cantar isso? Que coisa mais sem sentido!
---- Hun, vai ver está com uma minhoca engasgada. --- Isso fez todo mundo rir.
---- Vá embora --- insistiram. --- Volte quando souber das mais vida à sua canção, para que fique doce.
--- Ora, o que aconteceu com aqueles passarinhos que costumavam vir aqui? --- ouviu uma das feirantes perguntar quando saía voando. Em vez de voltar diretamente ao seu ninho, Gangale foi visitar Tika. Queria descobrir como os aldeões tinham recebido o velho amigo. Quando chegou ao ninho de Tika, Gangale pôde ver que o colega estava desolado. Tika, que conhecia Gangale havia anos, também soube na mesma hora que ele estava infeliz. Os dois sabiam o que tinham de fazer. Foram juntos para o ninho de Taka.
T.aka era um pássaro vaidoso e se recusou a permitir que os outros soubessem que fracassara redondamente, mas os antigos amigos conseguiram enxergar por trás do fingimento.
---- Acho que todos fomos tolos --- disse-lhe Gangale.
---- É --- acrescentou Tika. --- Nenhum de nós era líder nem tinha mais a contibuir.
---- O que eles amavam --- Continuou Gangale --- era a música que fazíamos juntos.
---- Você tem razão --- Taka teve de confessar, --- Sem os outros, o que fazemos não é música.
Eles concordaram em reatar a amizade e voltar à parceria. Na manhã seguinte, chegaram à feira do mercado bem cedinho. como sempre faziam quando cantavam juntos. E quando começaram a chilrear "Ta-ka-ti-ka-gan-ga-le, ta-ka-ti-ka-gan-ga-le, ta-ka-ti-ka-gan-ga-le", tiveram uma platéia alegre e calorosa.
---- Eeeeeiii, os nossos pássaros canouros voltaram --- alegram-se todos. Os aldeões deram aos pássaros mais comida e dinheiro do que os três já tinham recebido num único dia. Eles voltaram ao ninho de Gangale para comer o pão, as frutas e os cereais e para contar e dividir igualmente o dinheiro. Depois que cada passarinho recebeu o devido quinhão e ficou contente, Taka, Tika e Gangale prometeram nunca mais permitir que o orgulho atrapalhasse seu progresso."
Meu Primeiro Golpe de Estado | Autor: John Dramani Mahama | Tradução: Beatriz Medina | Edição: 1ª | Editora Geração | ISBN: 9788581301808
"Jazz to me is the spirit of freedom. I mean real freedom. Freedom to explore. Freedom to express. Freedom to pour out your guts" Herbie Hancock
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